sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Crítica Jornal JB

Para aficionados de capa e espada

A encenação de A marca do Zorro, em cartaz no Teatro Leblon, deve ser vista como produção para alcançar determinado tipo de público.

Não é montagem dirigida àqueles que desejam assistir comédia de humor escapista, e menos ainda para os que gostam de narrativas reflexivas. É capa e espada, com trama tradicional, açucarada e romântica o quanto basta, e pitadas de pieguice social, numa receita aventureira que, apesar de desgastada pelo excesso de uso, não chega a desandar.

É somente um tanto enjoativa, depois de se ter provado tantas vezes, no cinema, nos quadrinhos e na televisão. Esse personagem, criado pelo obscuro Johnston McCulley, como um Robin Hood latinizado, pode até manter a sua aura simpática, na dualidade de personalidades e no disfarce para melhor estabelecer a justiça e salvar a mocinha das mãos dos seus algozes.

Mas será, irremediavelmente, visto como figura incorporada à indústria da diversão, voltada para plateias mais ingênuas.

A versão teatral, dirigida por Pedro Vasconcelos, sem dúvida se encaminha ao encontro da plateia infanto-juvenil. A concepção geral, já na escolha do texto, busca o “espetacular”, a ação como justificativa da narrativa, os efeitos e truques como adornos que emolduram a movimentação cênica. É desta esgrima agitada que se sustenta a marca tantas vezes impressa no imaginário dos espectadores pelo mais diversos meios expressivos.

Pedro Vasconcelos procura dar agilidade e aproximar da plateia as cenas de luta, como chave para integrar o aventureiro à respiração do público.

São muitos e constantes os quadros em que o elenco duela, tanto que até mesmo uma passarela no meio do teatro permite que a pretendida tensão se avizinhe de quem está assistindo. Com maior ou menor eficácia, depende do que a evolução da história oferece, o diretor consegue transformar essas lutas em pontos de atração do olhar.

Com menor efeito, no entanto, se introduz a dança flamenca, com coreografia de xales e efeito de contraluz em desenho meramente decorativo.

O cenário de Ronald Teixeira resolve bem a necessidade dos cortes, e, com a extensão ao público, equilibra os problemas do palco do Teatro Leblon. Os figurinos, também assinados pelo cenógrafo e por Flávio Graff, têm unidade cromática e algumas ousadias algo carnavalescas, como as da cena do baile. Vale destacar a coordenação do elenco nas lutas e a boa preparação física. Na interpretação, os atores parecem menos seguros. A beleza de Priscila Fantin, a agilidade de Thierry Figueira, o histrionismo de Tadeu Mello, a vilania de Gaspar Filho, e a presença de mais 16 atores compõem este ágil capa e espada, que não deve desagradar os cultores do gênero.

Quinta-feira, 7 de Janeiro de 2010

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